sexta-feira, 20 de maio de 2011

As sementes da violência

Victor Hugo Folchini Sebben*

Entrou no pátio. Deixaram-no entrar. Em sua cabeça, um turbilhão incomensurável de sentimentos e fantasmas. Não entendia por quê...
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Sociedade. Segundo o dicionário Aurélio: “Meio humano em que o indivíduo está integrado.” Definição incompleta. Uma melhor: “Meio humano em que o indivíduo está integrado, ou não”.
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 Não saiu do pátio por conta própria. Carregaram-no para fora, inerte como uma rocha. Em suas mãos, o sangue de outros. Em suas mãos mortas, a morte.
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No dia 7 de abril de 2011, um jovem invadiu uma escola no Rio de Janeiro. Sendo ex-aluno da mesma, permitiram-lhe a entrada, mediante a alegação de que aí daria uma palestra. A palestra que deu chocou o Brasil. Em uma das piores chacinas ocorridas no país, 11 crianças acabaram mortas, e mais 12 feridas. O assassino suicidou-se em seguida. A tragédia, obviamente, chocou e revoltou o país, e deu assunto para inúmeras coberturas jornalísticas. 

É difícil encontrar causas para tal atrocidade. No entanto, essa não é a primeira e, infelizmente, não será a última do tipo. Nos Estados Unidos, crimes semelhantes a esse são quase um lugar-comum. Nos últimos dez anos, foram cerca de 40 acontecimentos trágicos como o do Rio de Janeiro em escolas americanas. Exatamente por isso, não poucos debates foram conduzidos tendo chacinas como tema. 

As razões para tais fatos são diversas e não podem ser resumidas a esse ou aquele aspecto da realidade dos assassinos. Famílias desestruturadas, solidão, facilidade de obtenção de armas, etc. O poder das armas de fogo que torna tão fácil matar. 

Alguns acreditam que as razões para a súbita explosão de ódio de jovens que, sem antecedentes criminais, promovem tais atrocidades, têm suas raízes na prática do bullying, ou seja, nas agressões que, por preconceito, ignorância, estupidez, ou seja lá o que for, eles sofreram na infância. Nos EUA, o preconceito contra estrangeiros é razão para a humilhação sistemática de imigrantes. Isso poderia ter motivado alguns dos crimes praticados lá. São inúmeras situações adversas que levam alguém a engolir progressivo de dores e decepções que constituem sementes de novas catástrofes, sem que a sociedade saiba como lidar com isso.
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O garoto chega em casa depois de seu primeiro dia de aula.
- Como foi a escola, filho?
- Foi bem, mamãe.
Como sempre, a hipocrisia mantém as aparências daquilo que não é. Na mente do menino, a lembrança das agressões.

Bullying. O dicionário Priberam Online explica: “Conjunto de maus-tratos, ameaças, coações ou outros atos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada mais fraca ou mais vulnerável”.
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A escola encontra-se, há muito, defasada em relação à realidade que a cerca. Por muito tempo, a educação mecânica e instrumental parece ter cumprido bem o seu papel. Conseguiu garantir ao sistema pessoas com conhecimento suficiente para produzir bem. Ahh, a maravilhosa certeza da produção!

Na escola, crianças aprendem matemática, português e ciências. Mas, aprendem a viver? A verdadeira sabedoria não reside em adquirir informações sem fim, mas em aplicá-las para construir uma realidade melhor ao redor de si.

A educação formal instrumental delega aos pais, apenas, a educação humanística. Isso não é o bastante. É preciso que cada instância de socialização procure, por força de lei e ideologia, formar verdadeiros seres HUMANOS.

A compreensão cidadã só pode ser a compreensão de todos como iguais, de todos como merecedores dos mesmos direitos. Caso permaneçamos tratando jovens como futuros profissionais, e não como futuros cidadãos, ou como eternos seres humanos, continuaremos produzindo monstros, pessoas incapazes de lidar com as mazelas da vida, e que encontrarão na violência sua ferramenta.

A violência é o mais importante e mais cruel sintoma da fraqueza. Se a força de uma boa estrutura se encontra em seus alicerces, a sociedade (a cidadania, a democracia...) precisa de alicerces mais fortes. 
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O menino cresceu. Não mais sofrerá agressões dos que não o compreendem.
Entrou no pátio. Deixaram-no entrar. Em sua cabeça, um turbilhão incomensurável de sentimentos e fantasmas. Não entendia por quê...


*Aluno doVII nível de jornalismo On-line.

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