sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Uma história da década passada!


*André Luiz Tonon

Foi em um sábado à noite. Duas, três da madrugada, não lembro bem. O livro era um clássico que passado duas décadas de minha vida, ainda não havia lido. Carrie, do gênio do suspense Stephen King. As folhas amareladas e desgastadas com o tempo davam a impressão de que o livro era retirado da própria casa de Carrie, onde sua mãe, uma religiosa fervorosa a trancafiava dos males do mundo.

A noite se encaminharia como qualquer outra, caso naquele momento não fechasse o livro, e, enquanto pegava um copo de água na cozinha, ligasse a tv. Em um programa da madrugada, dois escritores discutiam suas inspirações para escrever. Em certo ponto, um deles relatou que ouvia música clássica, ela o inspirava e, segundo o próprio, o fazia  surgir as letras do texto. Acompanhei o debate até o fim, desliguei a tv e voltei ao livro. Era o clímax, Carrie usava seus poderes de telecinese para vingar-se das humilhações sofridas durante sua adolescência. Lembro que enquanto lia o texto, me recordava das cenas do filme, da trilha sonora tensa e da mão firme usada com excelência por Brian de Palma na película homônima de 1976. Ao mesmo tempo recordei do debate visto há pouco tempo e logo refleti sobre o que inspirou Stephen King ao escrever o livro. Música clássica? Quem sabe! Acho que a música erudita soaria bem como plano de fundo às barbáries cometidas por Carrie. Pensei em ligar o notebook e deixar Beethoven tocar enquanto lia, pensei em acessar o Youtube e relembrar o olhar hipnótico de Sissy Spacek no filme, pensei ainda em curtir a página do autor no Facebook e informar que havia finalizado a leitura do livro naquela noite. 

Foi aí que ao virar de página, a folha escorreu e meus dedos deslizaram por toda a superfície impressa. A folha não virou! Também não liguei o notebook, não revi o olhar de Sissy e muito menos comentei sobre o livro no Facebook. Quem sabe por que o ano era 2010 e o que eu ainda tinha em mãos era um material tão retrógrado como o livro. Penso se um tablet não resolveria todas as questões acima de uma única vez. Com ele, poderia acompanhar a leitura com uma trilha sonora embutida, com um hiperlink no rodapé da página para comentar os melhores trechos com quem bem entendesse e quando o sono chegasse, não perdê-lo ao levantar da cama para apagar a luz!

Sejamos racionais, vivemos diante de uma tecnologia inventada no século XV, e antes daquela noite ainda teimava em acreditar que o livro seria imortal, que a poesia e lirismo dos livros ainda sobreviveriam. O cheiro, a textura, a capa couchê grossa, o folhear das páginas seriam maiores que uma fria e gélida peça de plástico e silício.


Minha lógica chegou um pouco tarde, contudo, chegou! Que venham os tablets, e-books e o que de melhor a tecnologia inventar. Nasci na época das fitas VHS e K7 e hoje convivo muito bem com Blu-rays e Ipods. O mundo digital não vai retroceder, mas quem ainda vive na nostalgia do século analógico pode ficar para trás!

*André Luiz Tonon é acadêmico do VI nível de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo da UPF.

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