sábado, 16 de maio de 2009

Onde passam medos e anseios

Luciele Copetti


Ponte. Fecho os olhos. O coração parece querer sair pela boca. Uma palpitação. Um leve frio na barriga e uma sensação estranha de inquietação toma conta. Tensão. Coloco as mãos sobre as pernas, abro os olhos, não acabou. Respiro fundo. Fecho os olhos. Respiro fundo outra vez. Abro os olhos, ainda não passou.

Dou risada. Mas não passava, pelo contrário, quando passava pela ponte, só me sentia mais estranhamente nervosa e agitada o resto da viagem e muitas vezes, encontrava pela frente outra ponte. É estranho confessar para alguém este medo. Geralmente as pessoas olham com aquele olhar de estranhamento. Pois é, temos medos, é inerente ao ser humano senti-los. Então o sentido da vida está em saber administrá-los.

Diz o Dr. Mariano Rhoden que temos dois tipos de medo. O medo que retrai e o medo que ajuda. – Mas ela tem fobia Doutor! Não consegue controlar a ansiedade de estar em frente às pessoas, no meio delas, nem falar não fala. É um descontrole excessivo. Aperta a minha mão, como querendo soltar.

Quero sair correndo. E o medo está ali, pronto, pedindo para ser desencadeado em qualquer situação. Não é como o medo da ponte, que me deixa em sinal de alerta, pronta, à espera por ela. Pois, eu sei que ela vem, já sei como controlar. Mas esse medo de encontrar uma multidão de gente reunida, esse sim, me paralisa.

Aqui me sinto segura. Em frente a minha tela, meus anseios se esvaem soltos no meu mundo de cores e palavras. Meus sentidos e sentimentos. Nada de vinte pessoas ou mais reunidas em burburinho, palavras altas, soltas, sem nexo. São elas que perderam o sentido mais simples da vida, que se encontra num mero sorriso dado a alguém. Nas proporções que ele toma após espalhar-se pelas ruas; num “bom dia” despretensioso ao gari que limpa nossas ruas. Sim, tenho medo das pessoas, do seu tom de voz, do seu desprezo para com elas mesmas, do julgamento que fazem de nós.

Como a ponte quando passo, não deixa de ser como a vida. Logo que passamos por um desafio, uma prova qualquer, encontra-se outra pela frente de tamanho e formas que ainda não sabemos. Segundo o Dr. Rhoden é possível mudar o dia de uma pessoa apenas com um sorriso ou um elogio. “Isso é gratificante. A pessoa tem a reação de mudança na hora e você só disse uma palavra. Não deu morfina na veia. Deu serotonina”.

Eu tinha fobia social. E ele mudou minha vida. Não foram dias fáceis. É preciso saber administrar com muito carinho, respiração profunda, algumas doses de medicamentos (é verdade), muitas idas ao consultório para falar, falar e falar. Mas ele mudou. “Somos testados nas situações e nas experiências que criamos. Portanto, é preciso tratar o corpo, mas perceber o todo e fazer com que as pessoas percebam isto”, disse ele ao transformar minha vida como numa reação em cadeia.

5 comentários:

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