sábado, 16 de maio de 2009

Fobias sociais, o medo da violência

Jonas de Moraes Lima


Certa vez, há alguns anos atrás, estava eu caminhando sozinho novamente por aquela rua, estava escuro, frio e a neblina que cobria a rua não me permitia enxergar três palmos a minha frente. Era a mesma rua de antes, nas mesmas condições climáticas e assustadoramente, o mesmo dia da semana. Com os passos largos, esforço-me para deixar todo aquele cenário para trás.

A porta do prédio que serviu como local do acontecimento estava ao meu lado, mas preferi não olhar. Olhei fixamente para frente e finalmente após passar do local, o medo estarrecedor começou a se dissipar assim como a neblina que cobria a noite. Dobro a esquina e deixo tudo para trás, tudo menos a certeza de que nunca mais passaria no mesmo local de antes, o local que um dia quase serviu de cenário para minha própria morte.

Certa vez, estava eu, sozinho, em um sábado de neblina e incrivelmente frio, estava indo até a casa de um amigo que estava dando uma festa. Como na época não tinha idade para dirigir fui a pé mesmo. Caminhava enquanto pensava em qualquer coisa sem importância, passo na frente de um prédio e repentinamente um carro escuro pára na minha frente, dois caras encapuzados saem do veículo, um deles manda olhar para o chão enquanto o outro grita repentinamente pela minha carteira.

Passo minha carteira assim como todos os meus pertences de valor. Ao entrarem de volta no carro um impulso furioso e minha rebeldia dos meus 16 anos me fizeram gritar – Levem tudo e gastem em cocaína seus filhos da puta! – O carro, que já estava em movimento, pára e volta, de repente percebo o cano de uma arma para fora da janela. Ao mesmo tempo em que os tiros iam sendo disparados em minha direção, ouço um grito de dentro do carro dizendo – Mata, mata! -. Atiro-me no chão com a esperança de que pensassem que estava morto. O carro se afasta, escapei ileso, mas com uma marca e um medo que perdura em minha pessoa até hoje.

Esta história real serve para ilustrar o medo e a fobia que os seres humanos despertam um nos outros. A fobia de caminhar em locais escuros, que despertei após este acontecimento, foi apenas uma mostra de como a violência social pode abrir feridas incicatrizáveis na vida das pessoas.

A fobia é tratada como a doença da modernidade, pessoas com um medo aterrorizante, da violência, de ser assaltado ou da morte, são resultado de uma sociedade promíscua, que fecha os olhos não só para as causas, mas também para as conseqüências que isto desencadeia nos seres humanos.

A fobia pode ser iniciada por objetos e acontecimentos que muitas vezes podem ser inofensivos, mas que posteriormente despertam pânico e desespero nas pessoas. Geralmente as pessoas “fóbicas” são impotentes a resistir ao medo não conseguindo adquirir o auto-controle. Pesquisas comprovam que o medo da violência, vem crescendo assustadoramente entre as pessoas, principalmente nos grandes centros, mas que vêm se espalha rapidamente.

Fobia à violência, comprova a rápida mudança que a sociedade está sofrendo, as mutações cotidianas trazem consigo um efeito colateral irreversível, é uma doença que chega para manifestar os medos mais íntimos das pessoas desencadeando o medo que elas têm delas mesmas.

Um comentário:

Unknown disse...

achei o artigo muito pertinente e compartilho da mesma opinião do nosso amigo Jonas. Esse será o tema do meu mestrado a relação fobias e trantornos/violência urbana, políticas públicas e sociedade. parabéns pela boa sacada.