sábado, 16 de maio de 2009

E você, tem fobia de quê?

Afani Carla Baruffi


Em uma manhã de domingo acordei no agito da minha loucura (ou quem sabe possa ter sido o contrário disso). A sensação de sufoco era tão forte que passei a desconfiar da quantidade de energético que havia ingerido na noite anterior! Tive sonhos pesados e acordei distribuindo euforia. Um pensamento me transportou do meu espírito imaginário para o meu corpo real e em voz alta reagi: SAI DAQUI!

Penso que o meu grito assustou os vizinhos que perambulavam pelos corredores do prédio, naquele meio dia de domingo! Penso, logo tenho dúvidas: será que gritei? Procurei sentar na cama, mas quando tentei realizar a ação percebi que ela não estava no mesmo lugar. A minha cama me observava em expressão sacana e com suas pernas mutantes, corria de mim.

CHEGA!

“Isso é reflexo dos filmes em efeitos especiais que estão afetando o seu córtex cerebral, procure rezar”. Claro que não pensei nisso na hora, afinal eu queria que minha cama parasse de correr dentro do meu quarto. A dedução anterior foi me dada pelo padre da igreja próxima, que me “aconselhou” substituir “X-Men”, por algo mais significante e menos fantasioso. Conclusão própria: HAHA.

Teve um outro dia que, sentada sozinha no shopping, tive a impressão que estava em um picadeiro de circo cercada por macacos carnívoros gigantes. Para entender melhor, explico que a sensação mostrava que as pessoas do local, queriam me devorar com seus olhos famintos e vermelhos. A febre de coação era tamanha que meu coração queria sair pelo ouvido na tentativa de encontrar proteção fora do meu corpo.

Optei por abandonar o padre da igreja próxima e resolvi procurar o médico quando atingi com um copo de vidro o cachorro poodle da vizinha. Ele ria todo o tempo, e eu odeio cachorros debochados. Depois disso comecei a ficar com medo de mim e principalmente dos outros. Vivia o pavor e o sofrimento só de pensar que, em algum momento, eu pudesse sair de mim, “do meu dentro”.

Meu médico procurou diagnosticar os meus medos e a minha loucura, a partir dos acontecimentos que relatei. Disse-me que eu estava passando por uma síndrome, do pânico, uma espécie de fobia relacionada a uma carga de ansiedade intensa.
Saí do consultório com doses de desequilíbrio interno e com uma indicação de psicoterapia e alguns remédios efetivos.
...
Viver não é somente administrar o corpo, mas é também ter força para vencer toda e qualquer influência. Vivemos em uma selva de pedras, onde negociamos temores e vendemos ansiedades. Controle, amor e confiança pessoal podem ser boas aliadas. Porém, nessa era de consumo e de produção, de exigência e de estratégia, muitas vezes é inviável ficarmos externos à alta rotatividade pessoal e mercadológica do mundo, das coisas, dos seres. Quem sabe, fobias também sejam necessárias em defesa da nossa sobrevivência. Mas, e você, tem fobia de quê?


Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura
(Guimarães Rosa).

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