*Guilherme Cruz, acadêmico de jornalismo
aaaa
aaaa
AAA
Conduzo um olhar de cada vez. Procuro algumas palavras diferenciadas. Mas recaio sempre na armadilha aprendida na escola.
Conduzo um olhar de cada vez. Procuro algumas palavras diferenciadas. Mas recaio sempre na armadilha aprendida na escola.
AAA
Sou uma ilha. Confesso que me sinto um arquipélago, rodeada de outras ilhotas diferentes, mas com a mesma finalidade. Eu canso só de pensar em mais um dia inútil que está por vir. Exijo de mim a única coisa que me liga aos outros - estar atenta. É assim que me torno visível, ganho o meu dinheiro e envelheço em meio ao pó branco. Nada mais digno, para quem sempre sonhou com um fim deprimente de uma tarde, depois de se multiplicar e se esvaziar – a reflexão das trocas humanas.
AAA
Eu sou movido pelo passado, é o meu ganha-pão, com a poeira do antigo já comprei um computador e dei entrada em trilhões de vezes na minha kitnet. Tantas vezes que não sei se estarei viva para pagar a última parcela.
AAA
Tirando todos os meus bens que já relatei, me acompanham sempre o meu cigarro e o meu café, simbolismos clichês da solidão. Utensílios importantes para quem acredita que vai ficar saudável um dia, vivendo cinqüenta e nove horas em um dia!
AAA
E ademais, sou só, não tenho companheiro, nem companheira, tenho folhas, canetas e desilusão. São essas as companhias de uma mulher de meia idade que quis viver da educação, atualmente, o meu elo mais forte é com o Estado que me ridiculariza todos os finais de mês.
AAA
Se você me ouve e capta um discurso pessimista, não tenha dúvida dele. A aglomeração de jovens em salas de aula é comparável ao esvaziamento de uma vida. Não quero comparar gerações, até porque acredito que o que foi gerado lá atrás (por nós) está sendo pago agora. Contra essa manada tenho um giz! E o auxílio do Barão do Rio Branco, Luís XVI e Descartes. Contra mim eles têm celulares, notebooks (em alguns casos), e os contemporâneos Barack Obama, Internet e Pedro Bial.
AAA
Atrair a atenção sem se servir como piada, ou encaixar algum palavrão no meio da explicação (porra Brutus!! Até tu meu!), não tem como. Incitar a curiosidade trancafiados numa sala de aula, não há edição televisiva-global que possa imaginar isso.
AAA
Eu só relato coisas do cotidiano. Um dia a dia de jornada tripla e relações pequenas. É assim quando eu entro na sala dos professores. Eu tenho pena das pessoas que se deslumbram com a nova caixa de giz vermelho e azul, eu tenho inveja das pessoas que dão para alunos e cobram por notas, eu tenho a lucidez de ser tragada pela imaginação quando o meu diretor troca letras e pede mais respeito à “classe”.
AAA
Nessas mesmas salas ocorrem reuniões. Ouço conselhos, dou risada das choradeiras, e fico desenhando estrelhinhas quando relatam mais um ato de violência. (Já desenhei a constelação de Orion numa noite!!). Nenhum relato surpreendente, nada fantástico ligado à violência, e se vivemos num estado mais puro do humano – na exploração e na utilização plena da violência – nada mais é estarrecedor.
AAA
E só me acalmo quando vem um pai jogar a educação do filho dele para mim. Desse jeito tudo bem, se ele soubesse o papel de um pai e se pudesse cobrar do filho alguma lição que ele mesmo nunca teve – a do respeito.
AAA
Sempre é bom jogar isso nas caras dos pais, mas melhor ainda é guardar tudo isso, não falar nada e juntar um câncer para morrer pálida, com um sorriso mórbido e assustar os meus alunos enquanto eu falava sobre os movimentos revolucionários brasileiros. Sempre sonho com esse momento, seria a morte perfeita, o silêncio e atenção que eu sempre quis para falar sobre Frei Caneca.
AAA
Bom, pessoal, por agora tá bom. Vamos pro intervalinho. Na volta falamos sobre os símbolos nacionais.
AAA
Nenhum comentário:
Postar um comentário