sábado, 12 de dezembro de 2009

Crise existencial

Verônica Faquin, acadêmica de Jornalismo, VII nível

Vivo em crise existencial pela escolha da minha profissão. Jornalista é bicho ruim, eu sei. Nós, como classe trabalhista, não valemos nada. Mesmo assim, fico pensando, às vezes, nas minhas decisões pessoais dentro do exercício do jornalismo.

Esses dias me peguei avaliando as enchentes que agora também acontecem no Rio Grande. Respondi um verdadeiro quiz ético em minha cabeça. Imaginei aquele aguaceiro todo, as pessoas perdendo suas casas, seus carros, suas vidas. E depois de tudo isso, imaginei: Deus, como eu queria estar lá fotografando tudo isso! (sádico, hã?)

Mas a principal pergunta que me ocorreu foi a seguinte: Se eu estivesse numa posição privilegiada de cobertura dos fatos, no meio do tumulto, fotografando aquela agitação toda, e visse uma família tentando abandonar um carro que estava sendo arrastado pela correnteza. Eles estariam sendo levados para a tragédia certa, provavelmente para a morte, já que logo em frente há um buraco que está sugando tudo e todos.

Eu tenho a oportunidade de salvá-los. Mas também tenho a oportunidade da minha vida de tirar uma foto que provavelmente ganharia o Pulitzer. Registrar o desespero estampado no rosto das pessoas, mostrar um ângulo diferente da finitude humana para todo o mundo, e assim dar um salto enorme na minha carreira e me tornar uma conceituadíssima repórter fotográfica. Mas não poderia fazer as duas coisas.

Ou eu salvaria aquelas pessoas, ou fotografaria o desfecho daquela situação. Uma coisa ou outra. Uma escolha sem volta, sem alternativa.


Ó, dilema. Perdi um tempo enorme pensando no que faria. Fiquei horas raciocinando o que um profissional de imprensa deve fazer em ocasiões como estas. Afinal, a profissão de um médico é salvar vidas. Ele faz isso todos os dias, e não precisa escolher. Mas a minha é registrar os acontecimentos, sem interferir. Até hoje não sei o que fazer.


Ainda não escolhi se usaria ISO 200 ou ISO 400. Foto na chuva, e em movimento, é melhor ter os dois sempre à mão.

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