sábado, 7 de novembro de 2009

O livro da feira

Álvaro Damini, Acadêmico de Jornalismo, VII Nível

É de certo modo engraçado. Não existe uma explicação concreta. Entre alguns títulos que conservo em uma estante, lá está ele. As folhas já estão com coloração amarela. O fato é que me apeguei àquele pequeno livro. Já pensei em me desfazer dele algumas vezes e inclusive fui incentivado a isso. Mas ele permanece lá.

Entre as atividades diárias, em um desses dias, resolvi visitar a Feira do Livro. Enquanto caminho entre alguns mostruários, estrategicamente montados pelas livrarias em pleno centro da cidade, vejo alguns apaixonados por literatura... E um grupo de crianças. Minha atenção desperta e ouço:

- Olha que legal esse livro!

A frase, dita por um garoto de aproximadamente oito anos, é rebatida por um colega da mesma idade:

- Deixa eu ver? Nossa, que massa cara!

Não vou negar que o diálogo me chamou a atenção. Como quem não quer nada, cheguei perto da banca e observei a continuidade da conversa. Enquanto isso via detalhes do livro que detinha aqueles meninos no local: uma capa dura em relevo, com imagens bem coloridas, destacando os personagens de uma história de aventura, dessas que mexem com o imaginário das crianças. A cada página virada uma surpresa nova, com imagens em três dimensões. Dependendo do ângulo como a imagem é vista, ela ganha formas diferentes.

Fiquei observando o encantamento das crianças com aquilo. Logo me veio em mente a figura do meu velho livro. Diferente desse que os meninos folheiam, ele é bem simples e só tinha um desenho na capa. Voltei em pensamento à infância. Lembrei como fiquei feliz quando ganhei aquele livro. Li com tanto gosto que me recordo da história até hoje. "Meu pé de laranja-lima": esse é o título dele. O livro conta a história de um garoto de família pobre e que certa vez ao mudar de casa encontrou no quintal uma árvore, que virou praticamente sua amiga número um. Sem me preocupar com detalhes da história, lembrei apenas do livro. O mesmo encanto que observava nesses meninos tinha sido o meu, quando ainda lá em meados da década de 80 ganhei aquele exemplar.

Eu estava ali. Em pé. Mas era como se não estivesse. Revivi aqueles momentos de infância. E só voltei a perceber onde estava alguns instantes depois, com outra frase marcante:
- Pede pra mulher quanto que é.
- Tia. Tia. Quanto tá esse livro?
A mulher da banca muito paciente conversou com eles e disparou:
- Quarenta reais.

Lógico que não tinham dinheiro com eles. Estavam no local juntamente com um grupo de crianças da escola onde estudam. Poderiam voltar depois, acompanhados pelos pais, imaginei. Deixaram a banca, ainda olhando para trás e falando sobre o livro.

Vi novamente naqueles garotos o retrato da minha infância. O deslumbramento por algo que parece tão simples. O meu livro nem tinha tanto atrativo visual, mas antes de deixar aquele espaço fui capaz de recordar. Aquele velho livro que tenho até hoje foi adquirido em uma feira. Foi em uma Feira do Livro, que tive o mesmo encanto que observei mais de vinte anos depois em dois meninos.

Nesse momento percebi. E, talvez, consegui entender um pouco o apego pelo livro já com páginas amarelas. Aquele que está lá guardado, que resiste ao tempo. Ele não está ainda lá por ser um simples livro. Tem toda uma carga emocional. Especialmente pela aquisição. Não foi comprado nas dependências de uma livraria. Foi adquirido em uma época em que ter um livro era algo fantástico. Algo que encantava. Algo que deslumbrava. Enfim, aquele é um livro de feira... da Feira do Livro.

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